A paisagem da cidade firma-se como espaço em constante modificação e recriação: vive em constante observação e absorção.
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A terra, as montanhas, o abaixo-linha-do-horizonte, um quadro negro a ser maculado, o receptáculo dos experimentos dos homens, substrato do uso do livre-arbítrio. A linha do horizonte toca e circunda a superfície, a pele de toda esta construção. Faz a transição entre o palpável material e a infinita finitude atmosférica.
sábado, 8 de setembro de 2007
sábado, 25 de agosto de 2007
Na década de 1940, o advento do Complexo da Pampulha, encomendado por Juscelino Kubitschek e realizado por grandes nomes modernos como Oscar Niemeyer, Portinari, Ceschiatti e Burle Marx, nos revela as maravilhas de um projeto arquitetônico. Porém, na medida em que levantamos toda esta história do planejamento da cidade de Belo Horizonte, aquele que mais nos atrai é o limite da Avenida do Contorno, que outrora demarcou o perímetro da cidade.
Violado por forças aleatórias, em decorrência das atividades do meio urbano, o perímetro da cidade passa a se diluir na medida em que esta é construída compulsivamente. Coloca-se abaixo a rigidez de todas as regras e linhas organizadas e inter-relacionadas do planejamento. Novas construções trazem novas questões e um ambiente completamente inesperado passa a vir à tona, originado do improviso, da experimentação. Novos elementos, novas ordens espaciais passam a contaminar a cidade, se agregando ao fluxo da sua vida. A cidade se torna um palco de criações e experimentações, “gambiarras” e reparos, amontoamentos e dispersões, onde as bordas e as linhas delimitadas servem de base para uma expansão criadora. Belo Horizonte é construída no imediatismo do presente. É fruída instantaneamente por seus visitantes e habitantes interessados, pela efetivação do seu direito à percepção, em busca de alguma ordem dentro da organização caótica da cidade que faça eco ao seu equilíbrio interior.
A partir de um planejamento, de um projeto feito à mão, em desenho, se funda um processo de experimentações com colagens, recortes, que usa a fotografia, a fotocópia, o bico de pena, o lápis e a caneta como instrumentos. Formando contextos, ligamos, superpomos, saciamos e criamos novos espaços - surgem inesperados, improvisados. A plasticidade e a praticidade do papel, do lápis, da fita-crepe e do estilete nos socorrem frente à velocidade do pensamento criativo.
A simplicidade e a alta pregnância do papel frente à caneta esferográfica, ao grafite, saciam a voracidade das mãos, ansiosas pela execução das sugestões da imaginação. Somente por meio de um apalpar, de uma fisicalidade das coisas, a mão se realiza - desenha, corta, emerge, recorta, destrói, reconstrói. Ela é movida por um impulso primário (alimentado por acrobacias o máximo palpáveis), que dá o embalo para as primeiras pedaladas expressivas que, por sua vez, geram novos impulsos e recebem outras novas sugestões. O processo, o mais elementar possível, insere a mão e a imaginação em um percurso de criação compulsivo. Ao brilhar o olhar da imagem, a madeira a recebe em berço esplêndido e carinhosamente se propõe a uma conversa ao pé de ouvido. E daí então, momentos de voltas, de vem, de contato, de sulcos, a intuição capitaneia do mais alto ponto do navio um diálogo entre as vontades, sensibilidades, coragens, afetividades, eficácias do artista e da matéria.
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